Certo
dia me acordei desanimado, sem vontade de trabalhar, muito menos de encarar a
faculdade depois de uma extenuante viagem Recife/Goiana/João Pessoa/Recife.
Meio
contrariado, peguei o dinheiro para o combustível, a chave do Cascão (assim
chamamos o Celta da empresa, que um dia já foi branco) e os documentos que se
faziam necessários para o cumprimento da missão.
Até
as pedras sabem que não gosto de dirigir, mas fui, se fazia necessário.
No
primeiro sinal, vi um homem com as pernas atrofiadas e que se locomove
deslizando sobre um skate. Achei estranho, mas foi só, afinal aquele dia seria
longo.
No
dia seguinte, com mais tempo, fui conversar com ele, sou muito curioso, tinha
muitas perguntas a fazer.
Quando
me aproximei, fui recebido com um sorriso no rosto, vindo de um homem de fala
simples e muita sabedoria adquirida pela dureza das ruas. Mas o que mais me
impressionou foi a leveza e a tranquilidade de seus gestos e palavras.
Apesar
de passar o dia inteiro deslizando entre os carros parados no sinal, com a mão
estendida, esperando pela boa vontade de um motorista que queira lhe dar uma
moeda, ele sorri e se diz grato por ter sobrevivido ao acidente que o matou da
cintura para baixo.
Ele
não tem dez por cento das coisas boas que me cercam. Perspectiva de futuro,
quase nenhuma e ainda assim acorda feliz e motivado por estar vivo, depois de
ter duelado duramente contra a morte.
Aquela
conversa me tocou profundamente.
Sim,
ainda hoje me acordo cansado, desanimado, sem vontade de sair da cama; mas isso
passa rapidamente. Passa quando lembro que, chova ou faça sol, o homem do skate
estará lá, sorrindo e ensinando a todos nós com a sabedoria de sua
simplicidade.
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