segunda-feira, 26 de setembro de 2011

O Homem do Skate


Certo dia me acordei desanimado, sem vontade de trabalhar, muito menos de encarar a faculdade depois de uma extenuante viagem Recife/Goiana/João Pessoa/Recife.
Meio contrariado, peguei o dinheiro para o combustível, a chave do Cascão (assim chamamos o Celta da empresa, que um dia já foi branco) e os documentos que se faziam necessários para o cumprimento da missão.
Até as pedras sabem que não gosto de dirigir, mas fui, se fazia necessário.
No primeiro sinal, vi um homem com as pernas atrofiadas e que se locomove deslizando sobre um skate. Achei estranho, mas foi só, afinal aquele dia seria longo.
No dia seguinte, com mais tempo, fui conversar com ele, sou muito curioso, tinha muitas perguntas a fazer.
Quando me aproximei, fui recebido com um sorriso no rosto, vindo de um homem de fala simples e muita sabedoria adquirida pela dureza das ruas. Mas o que mais me impressionou foi a leveza e a tranquilidade de seus gestos e palavras.
Apesar de passar o dia inteiro deslizando entre os carros parados no sinal, com a mão estendida, esperando pela boa vontade de um motorista que queira lhe dar uma moeda, ele sorri e se diz grato por ter sobrevivido ao acidente que o matou da cintura para baixo.
Ele não tem dez por cento das coisas boas que me cercam. Perspectiva de futuro, quase nenhuma e ainda assim acorda feliz e motivado por estar vivo, depois de ter duelado duramente contra a morte.
Aquela conversa me tocou profundamente.
Sim, ainda hoje me acordo cansado, desanimado, sem vontade de sair da cama; mas isso passa rapidamente. Passa quando lembro que, chova ou faça sol, o homem do skate estará lá, sorrindo e ensinando a todos nós com a sabedoria de sua simplicidade.

Nenhum comentário:

Postar um comentário