quinta-feira, 21 de fevereiro de 2013

Os Justiceiros


Veio a calhar, o Calheiros... Trocadilhos feios à parte, a eleição de Renan Calheiros serviu para proporcionar o reaparecimento da união popular em prol da causa maior que é destituí-lo do cargo.

Em relação a isso, gostaria de apresentar meu ponto de vista, que vai, de certa forma, no sentido oposto a este levante popular, ainda que eu tenha feito parte do tal abaixo-assinado.

E é justamente por este abaixo-assinado que desejo embasar com meus comentários. Eu contribuí com minha assinatura, cumpri com minha parte. Inclusive há certa pressão para que participemos deste movimento que, segundo seu organizador, acumulou mais de 1.600.000 assinaturas. Mas eu questiono a moralidade deste tipo de movimento, e vou explicar por quê:

Ele foi legitimamente eleito pelo estado de Alagoas, com exatos 840.809 votos, ou seja, mais de 840 mil alagoanos votaram nele mesmo sabendo que ele esteve envolvido no caso conhecido como Renangate, quando foi acusado de receber propinas diversas. Renan renunciou para não ser cassado, o que o faria perder o direito de concorrer – e se eleger – nas próximas eleições.

Mas, de todo jeito, ele tem o direito de estar no Senado. Se ele está de forma legítima no Senado Federal, tem todo o direito de concorrer à presidência da casa. Pode não ser algo dentro dos princípios da ética, mas, do ponto de vista legal, está perfeito.

Os 56 senadores – em um universo de 81 – que votaram nele e o fizeram novamente Presidente do Senado estão lá também de forma legítima, a partir dos votos obtidos em seus Estados para que representassem a vontade de seu povo. Quando votamos em vereadores, prefeitos, deputados, senadores ou presidentes, os estamos autorizando a tomarem decisões em nossos nomes, o que me faz sentir responsável por esta escolha.

Aí, nós que somos seres inteligentes, que fazemos um adequado (?) uso de nosso poder eleitoral, votamos com consciência e certeza de nossas escolhas, vamos de encontro a tudo isso. Se Renan Calheiros foi legitimamente eleito Senador, seus colegas que votaram nele para presidente foram escolhidos para tomarem decisões em nossos nomes e não houve nenhum tipo de fraude na votação, qual o motivo deste levante popular? Se elegemos um corrupto e um sem-número de pessoas que não votam por conta de seus posicionamentos, mas sim em nome dos interesses de seus partidos, agora temos que nos calar e aceitar as consequências.

É duro, mas é a verdade. Participei do abaixo-assinado, votei por não gostar da ideia deste senhor como Presidente do Senado, mas fui – como todos os assinantes – hipócrita. Não temos o direito de questionar o povo alagoano que elegeu o Senador que achava que devia. Não podemos criticar os eleitores de todos os outros Estados e, possivelmente Distrito Federal, que escolheram os colegas que reconduziram o Sr. Calheiros ao posto máximo do Senado.

Como diria Marta Suplicy, em sua infinita sabedoria: “Agora é relaxar e...”.

Um forte abraço a todos...

sexta-feira, 1 de fevereiro de 2013

Omissão Dói


É sempre ruim falar de tragédias, porém não posso me abster de compartilhar com o público nossas opiniões. Como quase todo mundo que tem se expressado ultimamente, vou falar da lamentável tragédia que ocorreu no sábado último na simpática cidade de Santa Maria.

Depois de todo mundo que estava na boate perceber que o incêndio se originou a partir de uma fagulha emitida pelo sinalizador portado pelo vocalista da banda que se apresentava, eles juram que o motivo foi uma pane elétrica do local.

Na verdade, somente a perícia da polícia poderá nos dizer o que, de fato, originou a catástrofe. Mesmo que se comprove qual foi o motivo real do acidente, de nada agora vai resolver a dor das famílias que foram cerceadas do convívio de seus filho(a)s, neto(a)s, namorado(a)s, noivo(a)s, pais ou mães.

Eu queria compartilhar o que eu penso sobre essa coisa toda. Primeiro, eu entendo que temos vários responsáveis: começando pelos Bombeiros, que já haviam autorizado o funcionamento da boate sem a existência de saídas de emergência – ou será que os proprietários fecharam as saídas após a autorização dos Bombeiros? – depois vem a parte da boate, que colocou mais gente que a lotação máxima da casa, não dispunha de uma brigada de incêndio capacitada, nem extintores capazes de atender à necessidade. Temos também o “gênio” da banda, que acende um sinalizador a poucos metros da espuma de isolamento acústico da boate.

O mais intrigante – e seria engraçado se não fosse trágico – é que agora as autoridades estão absurdamente mobilizadas para mostrar toda a sua competência em apurar os responsáveis. Ora, se estas mesmas autoridades fossem tão competentes, não haveria nada e se investigar.

A primeira informação que saiu no domingo pela manhã era de que o Alvará de Funcionamento de Boate Kiss estaria vencido desde julho de 2012, porém algumas horas depois, este documento estava pendente há um mês, mas em processo de renovação. Fico curioso em saber o que aconteceu neste ínterim para que houvesse esta mudança.

Em relação aos donos da boate, estes colocaram uma banda que, habitualmente, se utilizava de equipamentos pirotécnicos mesmo em ambiente fechado, como já haviam feito na Kiss mesmo.

Mesmo sabendo que o sinalizador fazia parte da performance da banda, em momento algum a empresa questionou ou se preparou para um eventual incidente.

O mais bizarro é ouvir o depoimento de vítimas dando conta de que os seguranças, inicialmente, barraram a saída das pessoas, inicialmente, pois todas as bobagens que tinham acontecido até ali não eram ainda suficientes.

No que tange a participação da banda, embora eles tenham começado a bagunça colocando fogo na casa, eu acho que o mais grave é a alegação de uma pane elétrica ter gerado o incêndio, no local para o qual estava apontado o sinalizador, patético. Poderiam, ao menos, ter a hombridade de assumir suas ações, esperando pelos desdobramentos que seguissem em razão delas.

Mas, se julgarmos pelos desdobramentos que teremos desde domingo pela madruga até o fim dos tempos, os grandes responsáveis pelo ocorrido na Boate Kiss são os familiares e amigos das vítimas, que tiveram suas companhias ceifadas, de forma bruta, abrupta e covarde. Ninguém, mesmo que haja condenações, vai ter mais privações ou sofrimento do que uma mãe que vê sua filha saindo com amigos para se divertir e voltar desfigurada em um caixão.

Por conta da omissão do Poder Público que se nada fez quando sabia que a boate não tinha o alvará dos Bombeiros e permitiu ainda assim que funcionasse, ou pela omissão quando sabia que a casa superlotava sem fazer nada, agora não temos pelo menos 230 pessoas que farão uma falta absurda aos seus, e deixam uma mancha negra que marcará nossos corações.

Por conta da falta de vontade das autoridades, perdemos futuros médicos, advogados, psicólogos, administradores, comerciantes, auxiliares de escritório, donos de casa ou qualquer outra função que estas pessoas teriam na vida, para que o mundo pudesse seguir. Podemos ter perdido o responsável pela cura da AIDS neste acidente, ou um futuro presidente, ministro, um grande professor. Quem pode suprimir a dor destas pessoas, quem pode aliviar a angústia que sinto em meu coração por ver o governo mais uma vez sendo nulo e incompetente?

Me enoja ver um bombeiro se vangloriando de ter resgatado pessoas daquele inferno. Ora, é seu dever. Vou para a imprensa me vangloriar por ter efetuado um pagamento em dia aqui na minha empresa? Não, claro. Principalmente quando percebo que este órgão – os Bombeiros – foi o mais omisso e negligente que poderia e como não deveria jamais ser.

Fico impressionado com a preocupação dos governos em relação à segurança dos eventos que vem em seguida, principalmente os camarotes de carnaval. Desde sempre houve um cuidado muito superficial com estas coisas, vez por outra acontece um acidente menor e ninguém nunca deu bola para nada, agora tudo é motivo de preocupação.

Já houve cidade em que todas as casas noturnas foram interditadas. “Depois da casa arrombada, tranca de ferro.”

Mas chega... Já deu para vocês perceberem um pouco do que penso a respeito.

Como tem gente com grana, imagino que os donos serão condenados, cumprirão um pedacinho da pena, progredirão para um regime semiaberto, ou aberto e, quando já não lembrarmos mais disso, serão soltos.

Só peço a Deus que acalme os corações das pessoas que verdadeiramente cumprirão pena, estando sem seus entes queridos, e dê paz e sabedoria para superarem este problema que se impôs.

Com o coração apertado dentro do peito, deixo um forte e carinhoso abraço a todos...