domingo, 8 de junho de 2014

Um dia...




Um dia, 24 horas, 1440 minutos, 86400 segundos. O que pode acontecer em 1 dia?
Um dia, ou no dia 03 de abril de 1980, minha história começou.
Um dia, ou no dia 19 de julho de 1981, sua história começou.
Um dia você descobriu que sua mãe não precisava, necessariamente, ser aquela pessoa que te gerou e colocou no mundo. Na verdade, um dia você descobriu que mãe não precisa ser só uma pessoa.
Um dia eu aprendi que mãe é mãe, professora, amiga, modelo e alguém a quem proporcionar orgulho, mas pra mim é uma só...
Um dia você viu coragem no seu pai, em um ato que muitos reprovariam.
Um dia eu vi um herói no meu pai, coisa que poucos mais viram.
Um dia vovó foi como mamãe e vovô foi papai, para você. Já, para mim, vovó nunca foi vovó, no máximo a Veia... E vovô, eu mal soube o que foi isso.
Um dia você foi uma magrelinha, pequena e trelosa.
Um dia eu fui um alemãozinho, quieto e concentrado, como se fosse ser o Presidente da República, um dia...
Um dia você teve seu primeiro beijo, o primeiro namorado...
Um dia eu também tive um primeiro beijo, uma primeira namorada.
Um dia você saiu debaixo da saia das suas mães e veio morar só, ser adulta, precocemente.
Um dia eu saí de perto de meu pai e vim ser adulto, tardiamente.
Um dia você aprendeu que as pessoas que você ama sempre estarão ao seu lado, mas podem deixar de amá-la.
Um dia eu aprendi que amar dói, mas esta dor me ensinou a amar melhor.
Um dia, ou no dia 28 de janeiro de 2010, você conheceu um carinha que parecia ser legal.
Um dia, ou no dia 28 de janeiro de 2010, eu conheci a pessoa mais incrível que já pisou neste planeta.
Um dia, ou no dia 02 de abril de 2010, esse carinha que parecia ser legal, já tinha te levado para longe de casa e se aproveitou para pedi-la em namoro.
Um dia, ou no dia 02 de abril de 2010, eram 50 anos da minha mãe, ausente, e foi feliz, pois minha Picorrucha aceitou namorar comigo.
Um dia te fiz sorrir. Um dia te fiz chorar. Um dia te fiz sofrer. Qual desses dias se repetiu mais?
Um dia você me fez sorrir. Um dia me fez chorar. Um dia me fez sofrer. Sorri muito, amei mais ainda.
Um dia você sentiu orgulho de mim.
Um dia me orgulhei demais de você, por tudo o que você é e o que você faz.
Um dia te mostrei o meu amor.
Um dia você me fez tocar o céu.
Mas hoje, hoje é mais um dia. E o que o dia de hoje tem de especial?
Quero que hoje seja meu último dia. Espero que hoje seu último dia.
Não quero mais dizer “um dia eu...”, “um dia você”...
Quero dizer, a partir de hoje, “um dia nós”, pois quero que sejamos um.
Amar você foi a coisa mais incrível que me aconteceu. Ser amado por você foi o maior dádiva que Deus já concedeu a mim. Não sei se mereço ou não, nem quero pensar nisso.
Hoje, quero começar o amanhã, quando nós dois passaremos a ser nós três, ou nós quatro.

segunda-feira, 2 de junho de 2014

Liberdade



Quem conheceu minha mãe, sabe que ela tinha inúmeras virtudes e alguns defeitos, como todos nós, seres humanos.
Mas eu gostaria de iniciar o texto falando sobre uma característica dela que pairava entre estas duas situações – a virtude e o defeito.
Ela tinha um controle muito grande em relação às ações, minhas e de minha irmã. Mas nada que nos impedisse de viver, só algo que garantisse que vivêssemos de forma adequada e nos tornássemos bons cidadãos.
Vou ser ainda mais específico. Eu nunca gostei de cortar o cabelo. Desde que eu me lembro sempre foi uma briga na hora de ir ao barbeiro. E, como acabei de dizer, a escolha do corte ficava por conta dela, invariavelmente. Por conta disso ostentei cortes mais tradicionais, “do tipo homenzinho” como ela dizia, até o terrível cogumelo – aquele que parece que o barbeiro coloca uma bacia na sua cabeça e corta ao redor.
Pois, um belo dia, fui até o salão do Chico, o barbeiro que mais cuidou do meu cabelo, e resolvi ousar: mandei raspar, tudinho, na máquina dois!
Imaginem o tamanho da afronta: Eu, uma criança de 13 anos, deixando de lado o corte que ela determinava. Lembro como se fosse hoje, ela entregava o dinheiro e dizia: “Corte assim, corte assado”. E não era permitido nenhum contraponto.
Pois cheguei eu, parecendo um rato pelado, com aquela imensa cabeça branca exposta. Minha mãe reagiu com espanto, afinal eu havia descumprido sua orientação. Garanto a vocês que achei que meu coração sairia pela boca. Achei que enfartaria ali, diante de seus olhos incrédulos.
Depois de franzir a testa, ela soltou uma gargalhada, e me “elogiou” com adjetivos do tipo ridículo ou estranho. Mais do que o controle sobre nós, minha mãe se caracterizava pelo acolhimento; e foi o que ela fez, me acolheu, mas sem deixar de rir um bocado.
Por mais que as pessoas que me conheceram com ou sem cabelo digam que eu fico ainda mais feio com a cabeça raspada, este gesto representou para mim um grito de liberdade. Naquele momento eu entendi que poderia ser o que eu quisesse, chegar onde me conviesse, buscar meus sonhos.
Quando raspei o cabelo atingi um patamar que muitas das pessoas que conheço jamais atingirão, pois tomei as rédeas da minha vida. Dali para frente jamais alguém me diria o que fazer ou aonde ir, quem sabia de mim era eu mesmo. Aprendi que temos que ser os senhores de nossos destinos, sem que ninguém diga como devemos agir ou pensar.
Aí minha mãe me mandou preparar um trabalho da escola e me lembrei de quem mandava...
Um forte abraço a todos...