sexta-feira, 27 de maio de 2011

Último Desejo

     É, parece que está chegando ao fim...

     Após muita batalha nesses dois últimos anos, meu pai está sucumbindo ao câncer que inicou por seu esôfago e hoje toma boa parte de seu tórax.

     Haverá sempre quem me considere uma pessoa fria, ou até insensível. Eles devem estar com a razão, afinal é muita gente falando a mesma coisa. A única coisa que peço a todos vocês é que não desconsiderem que sou um filho que já perdeu sua mãe e está na iminência de perder seu pai que, ainda por cima está a 4.000km de distância.

     Quando me mudei para Recife já sabia que, mais cedo ou mais tarde, passaria por essa situação, logicamente que não contava que seria mais cedo. Não é fácil você chegar em uma terra nova, onde não conhece praticamente ninguém e 45 dias depois saber que seu pai está doente. Mas ainda assim optei por ficar, seguir minha empreitada aqui pelo Nordeste do país. Não me arrependo em momento algum por essa decisão; aqui em Recife conheci a mulher da minha vida, descobri minha vocação profissional, conheci outra cultura, muito diferente da minha, amadureci demais. Porém, o fato de eu não me arrepender de ter feito essa escolha, não significa que isso não me faça sofrer de forma perene, havendo apenas oscilações na intensidade.
      Sou uma das pessoas que acreditam que crescemos nas adversidades, mas esta aí posto um tipo de crescimento do qual poderíamos ser poupados.

     Hoje, ou no máximo na segunda-feira, ele receberá alta do hospital, segundo o médico para atender a seu último pedido. Ele quer fazer uma pescaria, provavelmente lá no fundo saiba que será sua última. Não podemos negar a ele esse momento, afinal sempre foi seu maior prazer. Se isso fosse um filme a cena poderia ir se afastando dele, alí magrinho, segurando seu molinete com dificuldades e esperando por seu último peixe. É no cinema não precisamos ver o momento difícil, só o deixamos subentendido.

     Mas a dura verdade é que estamos no último capítulo desse belíssimo livro que foi sua vida e eu, aqui de longe, só pude fazer parte em flashbacks.

     Não faço ideia do resultado dessa derradeira pescaria, mas tenho certeza que ele partirá, segundo o médico na semana que vem, sabendo que tem dois filhos que o amam demais e que estará novamente junto de seu grande amor, minha mãe, em breve.

     Eu não ousaria pedir que tu não partisses, pois sei o quanto esses últimos dias têm sido difíceis para ti, mas te garanto que tu vais fazer muita falta, ainda não terminou o teu trabalho de criar esse "guri" aqui.

     Cara, quero te deixar um bejão e dizer que tu és o homem mais incrível que passou por minha vida. Espero ter consegido ser  filho que tu esperavas que eu fosse...

     Te amo demais...