Entre todas as palavras do nosso
vocabulário existe uma que não possui tradução em outros idiomas, é a saudade.
Eu poderia utilizar aqui uma frase
feita e bem bonitinha até, que diz que as pessoas que passam por nossas vidas
sempre levam um pouco da gente consigo e deixam conosco um pouco de si, mas a
minha intenção não é escrever uma série de frases feitas para ilustrar o que
penso afinal o que vivo é inédito e por isso as impressões que ficam dessa
existência tem de ser expressas com ideias particulares.
Quem me conhece há algum tempo ou tem
convivido comigo de forma mais próxima nos últimos tempos sabe que a saudade
tem sido presente em cada momento de minha vida. Sinto falta da minha irmã,
meus amigos próximos como Nataniel, Cris, Suzana, Cabeludo e alguns outros, não
quero citar todos para não cometer injustiça com ninguém.
Mas essas pessoas em especial, são uma
parte do que sou, elas me inspiram em pontos diferentes e ajudaram e me moldar
como sou hoje. Sei que vivemos uma constante mudança de hábitos e
comportamentos, quem somos hoje não reflete necessariamente quem seremos
amanhã, porém nossa essência não se altera, há determinadas características que
não se alteram independentemente do ambiente que nos envolve.
Gostaria aqui de falar um pouco dessas
pessoas e, sem a pretensão de descrevê-las, até porque não tenho uma visão
isenta a seu respeito, o que me torna uma pessoa inadequada para fazê-lo.
Para não cometer injustiças ou, pelo
menos, deixar transparecer que não estou sendo injusto, vou falar de meus
irmãos, uma de sangue e o outro por escolha, consideração, admiração e
respeito.
Bom, minha irmã... Que mulher
maravilhosa, meu cunhado é um cara de muita sorte. Ela é muito determinada,
personalidade forte, inteligente, esperta, linda, como diriam aqui “galega dos
olhos azuis”, tem uma característica que aprecio muito, me adora (hehehe).
Pedagoga ela, a primeira na parte mais próxima da família a concluir um curso
superior, orgulho para mim, meu pai e minha mãe, onde ela estiver. Ela casa em fevereiro,
espero poder estar lá. Ela não tem uma história triste como meu pai, de
dificuldades extremas ou barreiras aparentemente intransponíveis, um pouco pelo
esforço dos meus pais para que tivéssemos uma vida menos dura do que eles tiveram
e outra parte porque Deus já sabia que ela não precisava de grandes provações
para ser uma pessoa de fibra com fortes princípios morais e determinação para
vencer suas provações.
O Nataniel, ou simplesmente o Nata.
Esse cara passou a ser meu irmão porque nasceu de outra mãe, mas está aí o
segundo homem que amei na minha vida. Nos conhecemos no ensino médio, mas nos
aproximamos por conta do futebol, talvez minha maior conquista no futebol. Eu
jogava em time chamado Cosmos em Gravataí e tive a ideia de convidá-lo a jogar conosco,
ideia até um pouco estranha porque ele estava um tanto abaixo do nível médio da
equipe e só escrevo isso aqui porque já falei com ele sobre isso. Mas tem
coisas que o tempo nos mostra o fato pelo qual elas ocorrem. Futebol ou estudos
a parte, hoje considero o Nataniel o cara mais importante que agreguei em minha
vida nesses quase 30 anos que estou por aí incomodando o pessoal.
Advinha, vou eu falar das coisas da
vida dos outros, não me leva a mal cara, mas acho que preciso falar sobre isso
para mostrar as pessoas como tu te tornou no esteio de uma família maravilhosa.
Quando tínhamos uns 19 anos de idade
seu irmão do meio de 16 anos, o Robson, foi assassinado num assalto a ônibus.
Um golpe duríssimo em qualquer família, você se esforça para que seus filhos
sejam pessoas corretas, trabalhadoras e que levem suas vidas de forma adequada.
Depois de realizar um trabalho perfeito, os pais do Nataniel viram seu filho
ser arrancado de seu seio. Três ou quatro anos depois, mais um golpe na
família, seu Glemy faleceu em uma manhã de domingo.
Com isso, o Nataniel naturalmente
assumiu uma posição de liderança em sua família. Tinha que ajudar sua mãe, a
Suzana, a administrar a casa e criar Conrado, seu irmão mais novo que então
tinha 13 anos.
Na verdade, uma tragédia quando ele
tinha 19 anos, somada com a perda precoce de seu pai aos 23, serviram para
transformar um jovem de um potencial muito grande e um amor pela família muito
grande em um homem de caráter singular, uma pessoa única, com características
que o tornam uma pessoa fascinante. Garanto que não sou o único a pensar assim,
sem muito trabalho reuniria 50 pessoas que pensam exatamente da mesma forma que
eu. Quando eu crescer, quero ser como ele...
Para finalizar, gostaria de deixar
claro que amo demais esses dois, são pessoas das quais sinto muita falta, a
minha vontade era trazê-los para junto de mim, mas sei que não dá, cada um tem
sua vida e suas aspirações. Eu escolhi vir para cá para conseguir uma situação
financeira melhor e quando fiz isso sabia que estava abrindo mão de sua
companhia. Espero vê-los em breve, aqui ou no RS, com Sol e praia, seja em Boa
Viagem ou no Pinhal.
Há ainda uma pessoa da qual sinto
muitas saudades, minha mãe. Mas para ela escreverei algo especial, ela é a
mulher mais fantástica que pisou nesse planeta. Não estou hoje em condições
emocionais de escrever sobre ela, a saudade que me pega, aqui, por vezes, me
tornou muito sensível. Preciso consolidar um pouco mais meu lado emocional para
descrever o que sinto e o que penso a respeito dela.
Hoje tenho aqui um porto seguro que me
proporciona conforto e me faz sentir em casa. Mas, às vezes, nem todo o amor e
carinho que minha Picorrucha me dedica é capaz de confortar esse coração
judiado.
Saudade não mata, mas castiga o
coração. Só me submeto a essa dor para vencer aqui e dar orgulho a todos vocês.
Mesmo à distância, vocês são o motivo pelo qual me acordo pela manhã e faço o
possível e o impossível para ser uma pessoa melhor na hora que vou deitar à
noite.