sexta-feira, 30 de setembro de 2011

Ele...


Ele acordou assustado! Estava estirado, não conseguia se mexer, apenas ouvia ruídos que pareciam passos de animais de pequeno porte, talvez cães ou gatos. Aos poucos ia recobrando a consciência e percebia que estava em meio a uma floresta, mas não conseguia se lembrar o que estava fazendo ali.
À medida que os passos iam se tornando mais próximos ia tentando imaginar o que estava fazendo ali e que tipo de animal vinha em sua direção.
Sua perna formigava, e o vento do final de tarde era especialmente gelado quando tocava sua perna direita. De súbito um flash toma suas ideias: Ele corria, parecia fugir de alguém, quando esbarra em um galho proeminente que perfura sua perna.
Os passos estão mais próximos, a criatura agora corre em sua direção. O medo proporciona uma descarga de adrenalina em suas veias. Ele tentar se por de pé, mas é em vão. Não tem como se mover.
Agora ele já acredita que o animal que vem em sua direção é um lobo, ou uma onça. Sabe ainda que o sangue de seu ferimento atrai o predador.
Ele luta contra seu corpo querendo levantar-se e sair correndo. Mais uma vez uma imagem inunda sua mente. Ele corre olhando para trás, talvez tentando um contato visual com o inimigo, quando o chão lhe falta. Sofre uma queda absurda. Olhando com mais atenção percebe um paredão com uns dez metros de altura. “Devo ter caído de lá.” Foi a conclusão a qual chegou.
Nesse momento começa a se tranqüilizar, se Deus o permitiu sobreviver à queda, é por que tem algo para Ele.
A tranquilidade dura pouco tempo. Com muito esforço consegue mover a cabeça e percebe uns cinco ou seis lobos se aproximando. Sentiu um calafrio percorrer seu corpo. Em instantes sua vida passou diante de seus olhos. A infância no interior, as aulas na escola onde seus pais estudaram, o primeiro beijo, a primeira namorada, as missas, os cultos e toda sua longa busca por Deus durante a vida.
“Bem, parece que minha busca chegou ao fim... Em breve estaremos juntos, Senhor.”
Um rosnado quebrou o transe. Um lobo, com olhos vermelhos, o encarava nos olhos. Era possível sentir o hálito de carniça do animal. Já não mais sentia medo, muito pelo contrário: sentiu em condições de lutar contra todos os lobos, porém seguia imóvel.
Quando todos os lobos, em um ataque que parecia orquestrado deram o bote derradeiro, uma luz intensa cegou seus olhos. Os lobos grunhiram e caíram mortos. Seu corpo queimava, entretanto já não estava imóvel. Levantou-se e viu sua perna suja de sangue, mas do corte restou apenas uma cicatriz.
Ele sabia o que tinha acontecido ali. Descobriu que sua busca por Deus, sua batalha que durou sua vida inteira, havia sido em vão, afinal Ele sempre estivera ali, a seu lado.
Um forte abraço a todos...

segunda-feira, 26 de setembro de 2011

O Homem do Skate


Certo dia me acordei desanimado, sem vontade de trabalhar, muito menos de encarar a faculdade depois de uma extenuante viagem Recife/Goiana/João Pessoa/Recife.
Meio contrariado, peguei o dinheiro para o combustível, a chave do Cascão (assim chamamos o Celta da empresa, que um dia já foi branco) e os documentos que se faziam necessários para o cumprimento da missão.
Até as pedras sabem que não gosto de dirigir, mas fui, se fazia necessário.
No primeiro sinal, vi um homem com as pernas atrofiadas e que se locomove deslizando sobre um skate. Achei estranho, mas foi só, afinal aquele dia seria longo.
No dia seguinte, com mais tempo, fui conversar com ele, sou muito curioso, tinha muitas perguntas a fazer.
Quando me aproximei, fui recebido com um sorriso no rosto, vindo de um homem de fala simples e muita sabedoria adquirida pela dureza das ruas. Mas o que mais me impressionou foi a leveza e a tranquilidade de seus gestos e palavras.
Apesar de passar o dia inteiro deslizando entre os carros parados no sinal, com a mão estendida, esperando pela boa vontade de um motorista que queira lhe dar uma moeda, ele sorri e se diz grato por ter sobrevivido ao acidente que o matou da cintura para baixo.
Ele não tem dez por cento das coisas boas que me cercam. Perspectiva de futuro, quase nenhuma e ainda assim acorda feliz e motivado por estar vivo, depois de ter duelado duramente contra a morte.
Aquela conversa me tocou profundamente.
Sim, ainda hoje me acordo cansado, desanimado, sem vontade de sair da cama; mas isso passa rapidamente. Passa quando lembro que, chova ou faça sol, o homem do skate estará lá, sorrindo e ensinando a todos nós com a sabedoria de sua simplicidade.

sexta-feira, 2 de setembro de 2011

Rimas...


Não sou bom de rima
Porém minha moral está lá em cima
Minha rima é pobre,
Mas minha intenção nobre.
Posso rimar pão com chão,
Amar com beijar,
Posso acelerar,
Sem parar para pensar,
Falar,
Calar,
Agradar,
Divagar,
Ou seguir devagar.
Vou rimando,
Minhas ideias concatenando.
De métrica não entendo,
Beleza ou estética,
Não é o que estou querendo.
Posso falar de política
Elogiar ou fazer crítica.
Falar de amor,
De seu prazer e sua dor
Homenagear minha musa,
De forma ampla ou obtusa.
Não sou Drummond, Gonçalves Dias ou Quintana
Não componho para Legião, Petrúcio ou Nirvana.
Não sou escritor nem poeta,
Muito menos pensador ou profeta.
Evito repetir outras pessoas,
Apenas exponho minhas ideias,
Ruins ou boas.
Não sou pretensioso, brilhante
Ou naturalmente talentoso
Quero ser feliz, amado
Querido e realizado.
Das pessoas quero respeito,
Da pessoa que mora no meu peito,
Ali no lado esquerdo,
Não sei se mereço
Mas quero carinhos, afagos, beijos de mel.
Estar ao seu lado não tem preço
Pensando nisso flutuo, toco o céu...