Quem
conheceu minha mãe, sabe que ela tinha inúmeras virtudes e alguns defeitos,
como todos nós, seres humanos.
Mas eu
gostaria de iniciar o texto falando sobre uma característica dela que pairava
entre estas duas situações – a virtude e o defeito.
Ela tinha
um controle muito grande em relação às ações, minhas e de minha irmã. Mas nada
que nos impedisse de viver, só algo que garantisse que vivêssemos de forma
adequada e nos tornássemos bons cidadãos.
Vou
ser ainda mais específico. Eu nunca gostei de cortar o cabelo. Desde que eu me
lembro sempre foi uma briga na hora de ir ao barbeiro. E, como acabei de dizer,
a escolha do corte ficava por conta dela, invariavelmente. Por conta disso
ostentei cortes mais tradicionais, “do tipo homenzinho” como ela dizia, até o
terrível cogumelo – aquele que parece que o barbeiro coloca uma bacia na sua
cabeça e corta ao redor.
Pois,
um belo dia, fui até o salão do Chico, o barbeiro que mais cuidou do meu
cabelo, e resolvi ousar: mandei raspar, tudinho, na máquina dois!
Imaginem
o tamanho da afronta: Eu, uma criança de 13 anos, deixando de lado o corte que
ela determinava. Lembro como se fosse hoje, ela entregava o dinheiro e dizia:
“Corte assim, corte assado”. E não era permitido nenhum contraponto.
Pois
cheguei eu, parecendo um rato pelado, com aquela imensa cabeça branca exposta.
Minha mãe reagiu com espanto, afinal eu havia descumprido sua orientação.
Garanto a vocês que achei que meu coração sairia pela boca. Achei que
enfartaria ali, diante de seus olhos incrédulos.
Depois
de franzir a testa, ela soltou uma gargalhada, e me “elogiou” com adjetivos do
tipo ridículo ou estranho. Mais do que o controle sobre nós, minha mãe se
caracterizava pelo acolhimento; e foi o que ela fez, me acolheu, mas sem deixar
de rir um bocado.
Por
mais que as pessoas que me conheceram com ou sem cabelo digam que eu fico ainda
mais feio com a cabeça raspada, este gesto representou para mim um grito de
liberdade. Naquele momento eu entendi que poderia ser o que eu quisesse, chegar
onde me conviesse, buscar meus sonhos.
Quando
raspei o cabelo atingi um patamar que muitas das pessoas que conheço jamais
atingirão, pois tomei as rédeas da minha vida. Dali para frente jamais alguém
me diria o que fazer ou aonde ir, quem sabia de mim era eu mesmo. Aprendi que
temos que ser os senhores de nossos destinos, sem que ninguém diga como devemos
agir ou pensar.
Aí
minha mãe me mandou preparar um trabalho da escola e me lembrei de quem
mandava...
Um
forte abraço a todos...
As vezes parece chato mas é assim que crescemos e formamos a nossa personalidade! Acredito que o que importa para "elas" é como vamos digerir aquilo que nos é passado , como faremos daquela informação que até então é chata ser uma coisa positiva para a nossa personalidade. Tayna Landgraf.
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