segunda-feira, 2 de junho de 2014

Liberdade



Quem conheceu minha mãe, sabe que ela tinha inúmeras virtudes e alguns defeitos, como todos nós, seres humanos.
Mas eu gostaria de iniciar o texto falando sobre uma característica dela que pairava entre estas duas situações – a virtude e o defeito.
Ela tinha um controle muito grande em relação às ações, minhas e de minha irmã. Mas nada que nos impedisse de viver, só algo que garantisse que vivêssemos de forma adequada e nos tornássemos bons cidadãos.
Vou ser ainda mais específico. Eu nunca gostei de cortar o cabelo. Desde que eu me lembro sempre foi uma briga na hora de ir ao barbeiro. E, como acabei de dizer, a escolha do corte ficava por conta dela, invariavelmente. Por conta disso ostentei cortes mais tradicionais, “do tipo homenzinho” como ela dizia, até o terrível cogumelo – aquele que parece que o barbeiro coloca uma bacia na sua cabeça e corta ao redor.
Pois, um belo dia, fui até o salão do Chico, o barbeiro que mais cuidou do meu cabelo, e resolvi ousar: mandei raspar, tudinho, na máquina dois!
Imaginem o tamanho da afronta: Eu, uma criança de 13 anos, deixando de lado o corte que ela determinava. Lembro como se fosse hoje, ela entregava o dinheiro e dizia: “Corte assim, corte assado”. E não era permitido nenhum contraponto.
Pois cheguei eu, parecendo um rato pelado, com aquela imensa cabeça branca exposta. Minha mãe reagiu com espanto, afinal eu havia descumprido sua orientação. Garanto a vocês que achei que meu coração sairia pela boca. Achei que enfartaria ali, diante de seus olhos incrédulos.
Depois de franzir a testa, ela soltou uma gargalhada, e me “elogiou” com adjetivos do tipo ridículo ou estranho. Mais do que o controle sobre nós, minha mãe se caracterizava pelo acolhimento; e foi o que ela fez, me acolheu, mas sem deixar de rir um bocado.
Por mais que as pessoas que me conheceram com ou sem cabelo digam que eu fico ainda mais feio com a cabeça raspada, este gesto representou para mim um grito de liberdade. Naquele momento eu entendi que poderia ser o que eu quisesse, chegar onde me conviesse, buscar meus sonhos.
Quando raspei o cabelo atingi um patamar que muitas das pessoas que conheço jamais atingirão, pois tomei as rédeas da minha vida. Dali para frente jamais alguém me diria o que fazer ou aonde ir, quem sabia de mim era eu mesmo. Aprendi que temos que ser os senhores de nossos destinos, sem que ninguém diga como devemos agir ou pensar.
Aí minha mãe me mandou preparar um trabalho da escola e me lembrei de quem mandava...
Um forte abraço a todos...

Um comentário:

  1. As vezes parece chato mas é assim que crescemos e formamos a nossa personalidade! Acredito que o que importa para "elas" é como vamos digerir aquilo que nos é passado , como faremos daquela informação que até então é chata ser uma coisa positiva para a nossa personalidade. Tayna Landgraf.

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