sexta-feira, 19 de novembro de 2010

Máquina do Tempo

Quem já chegou de avião a Porto Alegre talvez nunca tenha reparado na beleza do sobrevoo sobre o Rio (ou Lago) Guaíba.
Mas, para mim, e possivelmente para todos os gaúchos emigrados para fora da Província de São Pedro, essa imagem simplesmente toca, cala fundo o peito.
O mais curioso, e aí sim, especial só para mim, é o que se vê à direita da aeronave, olhando para o Sul da Capital de Todos os Gaúchos.
Há uma sucessão de locais que me trazem lembranças e, o mais curioso, esses lugares apresentam essas lembranças em ordem cronológica, quanto mais ao Sul da cidade, mais recentes as lembranças.
Partindo da Ponte do Guaíba, temos a parte do Cais onde se encontravam os depósitos de areia e materiais de construção, lugar onde meu pai trabalhou a vida inteira e aonde eu ia “trabalhar” com ele nas férias escolares ao longo da minha infância.
Correndo os olhos na direção Sul, vem a parte central do Cais, aí chegam as lembranças de minha tenra adolescência, ali pelos 15 anos, quando era office-boy e literalmente corria pelo Centro da cidade todinho.
Mais um pouco ao Sul e temos a Usina do Gasômetro, local de onde se visualiza o segundo pôr-do-sol mais belo do planeta, ah meus 18 ou 19 anos, namorar no Gasômetro era algo fantástico.
Seguindo para o Sul, temos o estádio Beira-Rio que, embora eu freqüente desde os 16 anos, traz grandes lembranças de minha idade adulta, com títulos de Libertadores, Sulamericana e Recopa, além de jogos memoráveis como vitórias sobre o Boca Juniors, o São Paulo, o Chivas e, é claro, nosso filho preferido, o Grêmio.
Diante de tantas lembranças, somadas à saudade e à ansiedade em rever pessoas amadas, fui tomado por uma emoção fortíssima e simplesmente chorei. Chorei como a criança que caía em meio aos montes de areia e esfolava os joelhos, chorei como o jovem que conseguiu o primeiro emprego, ou como o guri apaixonado que conquistou sua primeira namorada ou ainda como o torcedor que conquista um grande título em seu estádio. Pode ser tudo isso, mas eu sei que esse choro é de um filho que retorna a sua terra amada, que sente estar religando seu cordão umbilical à uma força maior que só existe ali, esse choro é de alegria, satisfação e, sobretudo, de ansiedade pois sei que grandes são os momentos que estão por vir.

Nenhum comentário:

Postar um comentário